O QUE SÃO IMPLANTES ZIGOMÁTICOS?

Vamos começar por nos localizarmos:

Os implantes Zigomáticos têm este nome porque são implantes colocados no osso Zigomático. Para os mais antigos, de certo que se recordam pela antiga Norma Anatómica (antes de 1998), em que o osso Zigomático tinha o nome de osso Malar. Não é incorrecto chamar-se osso Malar, do ponto de vista leigo e social, mas em termos médicos e cirúrgicos o osso actualmente tem o nome de osso Zigomático.

A técnica cirúrgica tem o nome de Colocação de Implantes Zigomáticos ou de Transfixação Zigomática como pode ser encontrada na literatura cientifica.

Não vou neste contexto alongar-me, nem vou entrar pela descrição das várias abordagens cirúrgicas, nem pelo tipo de investigação que hoje em dia se faz tanto ao nível médico e cirúrgico para tornar a cirurgia cada vez mais segura, previsível e com resultados que permitam uma Reabilitação Oral cada vez melhor e mais adequada aos nossos pacientes como na investigação cientifica na qual estou envolvido em vários projectos, sejam na Formação da qual faço parte em Portugal, onde represento a marca de Implantes com a qual trabalhamos no CERO, ou no estudo e pesquisa que actualmente desenvolvo na Universidade de Londres, no meu Mestrado em Cirurgia Oral e Maxilofacial. Mais tarde terei todo o gosto em aprofundar o tema convosco e porque não até partilhar resultados e avanços nesta área, mas penso que o propósito deste texto e deste Blog, não levarão este caminho.

Vou em vez disso abordar o assunto de forma menos académica, cirúrgica ou cientifica, e mais clinica, prática e em termos de Reabilitação Oral.

Ligeira introdução histórica

As fixações transzigomáticas já são utilizadas há várias décadas. Começaram por ser utilizadas em reabilitações cirúrgicas e protéticas em pacientes reabilitados pós-ressecção tumoral em pacientes que perdem boa parte das estruturas anatómicas que compõem a face, como os maxilares, orbitas, nariz, etc. A sua utilização fazia parte dum complexo protético que fixava os obturadores protéticos, juntamente com outro tipo de implantes que eram parafusos de fixação ósseos para a Medicina conseguir devolver a estes pacientes alguma qualidade de vida após cirurgias tão mutilantes e onde os pacientes necessitam de recuperar a sua qualidade de vida, em parte ou quase total. Até em termos de publicações cientificas existe um teste, uma escala para medir a Qualidade de Vida dos pacientes pós cirurgia e reabilitação.

Também eu e a minha Equipa, nos meus trabalhos de investigação, utilizamos uma modificação deste questionário para conseguirmos perceber melhor e onde podemos e devemos investir e investigar para melhorar os aspectos menos positivos e manter ou ainda melhorar mais os aspectos de si já positivos neste tipo de Reabilitação Oral.

Este tipo de Reabilitação Oral, em termos protéticos é bastante semelhante ao tipo de Reabilitações Totais Fixas que fazemos nos desdentados totais.

Abro aqui um ligeiro parêntesis para tentar explicar a quem nos lê o que para a Medicina Dentária actual, aceite e assente em princípios de Medicina Baseada em Evidência Cientifica, o que nós médicos classificamos como desdentados totais:

– Pacientes que já não possuem nenhum dente ou raiz/fragmentos dentários nos maxilares,

– Pacientes que possuem alguns dentes, mas estes já não possuem função pela sua ausência de suporte, tamanho ou posição incorrectas, ou porque apresentam sintomatologia inflamatória crónica e/ou infecciosa.

Quando esta situação se manifesta em ambos os maxilares, é um desdentado total.

Quando a situação se manifesta só num dos maxilares, é um desdentado total superior ou inferior consoante o maxilar em causa.

Neste caso dos Implantes Zigomáticos, estamos a falar da sua aplicabilidade apenas para o Maxilar Superior, devido à proximidade anatómica do Osso Zigomático com o Maxilar Superior (Maxila).

Durante os últimos anos, as técnicas cirúrgicas e os materiais e técnicas de reabilitação oral, foram evoluindo para que o trabalho final, ou seja, aquilo que de facto o paciente tem em boca possa usufruir, comer, falar, restabelecer formatos e dimensões musculares e de tecidos moles e em termos estéticos, poder voltar a sorrir de forma confiante, com um sorriso construído e adaptado à sua individualidade, numa estrutura completamente fixa ao seu corpo, no seu Maxilar superior e nos seus ossos Zigomáticos.

Os Implantes Zigomáticos podem ser utilizados em conjunto com os Implantes dentários convencionais, quando ainda existe osso remanescente no maxilar superior, ou seja em casos de reabsorção óssea moderada ou avançada que possa ser por nós utilizado como fixação durante a cirurgia ou em casos muito extremos, ou seja, naqueles casos onde a reabsorção óssea é severa ou extrema, onde a fixação da estrutura protética vai ocorrer apenas em Implantes Zigomáticos, onde utilizamos 2 implantes Zigomáticos de cada lado nos casos mais extremos.

Quem é candidato a este tipo de tratamento?

Todos os pacientes em que:

– Por o grau de reabsorção óssea ser tão severo ou extremo, a realização de enxertos ósseos Maxilares já não é opção viável de tratamento, porque um dos princípios básicos para realizarmos um enxerto ósseo para aumentarmos o volume de osso, é termos osso remanescente suficiente para a fixação do enxerto ósseo.

– As condições médicas, fisiopatológicas o permitam, que são aferidas com o conjunto de exames médicos, clínicos, laboratoriais e de radiologia que utilizamos para casos operados em Anestesia Geral. A nossa Equipa opera todos os pacientes para a colocação de Implantes Zigomáticos em ambiente Hospitalar e em Anestesia Geral. Portanto subentende, consulta de Anestesiologia com a nossa Equipa de Anestesiologia.

– Todos os Pacientes que têm ou já tiveram reabilitações falhadas em boca, e que pelo planeamento, técnica ou abordagem cirúrgica não terem sido os mais adequados, o osso remanescente pós-remoção dos Implantes dentários convencionais falhados não é em volume e qualidade suficiente no Maxilar Superior para se puder repetir a cirurgia e voltar a utilizar apenas implantes dentários convencionais.

Por implantes dentários convencionais, classifico aqueles que têm tamanho e formato normal, dentro das medidas e padrões aceites internacional e cientificamente por todas as marcas autorizadas a comercializar implantes dentários, e que são aplicados nos Maxilares.

Os implantes Zigomáticos não são convencionais porque possuem tamanhos superiores principalmente em termos de comprimentos e apesar de passarem, terem apoio ou mesmo fixação no Maxilar Superior, a sua principal ancoragem é no osso Zigomático.

Caso Clínico 1:

Raio –X: Ortopantomografia Digital

Paciente M.F.F., sexo feminino, 68 anos

Caso Clinico 2:

Raio –X: Ortopantomografia Digital

Paciente C. R., sexo feminino, 46 anos

É uma técnica cirúrgica que é executada no andar médio da face, com um campo operatório superior ao de uma cirurgia Maxilar convencional, que requer o conhecimento profundo, qualificado e com técnicas especificas na sua abordagem e a qual só deverá ser executado por médicos/cirurgiões altamente treinados e qualificados que possuem nos seus currículos formação especifica para este tipo de cirurgia.

A técnica apresenta como qualquer outra, os seus riscos e complicações que lhe serão explicados de forma detalhada e minuciosa por parte da nossa Equipa Médica e de Enfermagem.

Contudo, feita por quem sabe e com pacientes responsáveis e com capacidade para perceber e executar de forma completa e correcta todos os cuidados e precauções a ter, é uma técnica bastante estudada, bastante segura e previsível.

Quando o osso nos permite em termos de qualidade, quantidade e segurança nas forças de inserção dos implantes obtidas (torque), a Equipa da Cirurgia informa a Equipa da Reabilitação que será possível reabilitar o paciente em função imediata, ou seja, ter os dentes aparafusados no próprio dia e daqui para a frente, é uma situação de “Dentes em 1 Dia” como os nossos outros pacientes que são reabilitados com os nossos Implantes Dentários Convencionais.

ontudo, os casos cirúrgicos de Implantes Zigomáticos são casos de Reabsorções Ósseas Severas e Extremas e muitas são as vezes em que não fazemos a função imediata dos implantes, nem dos Zigomáticos nem dos Convencionais.
O Paciente utiliza durante um período de 6 a 8 meses um Prótese Completa Removivel Convencional com um preenchimento mole que é substituído de 3 em 3 semanas pela nossa Equipa da Reabilitação. Passado este período de Osteointegração, podemos fixar as novas estruturas aos Implantes.

Havia muito mais por dizer, havia muito mais por mostrar, mas espero ter contribuído para esclarecer os nossos seguidores e leitores acerca de um tema que me é muito querido e que muito tempo me ocupa na vida, no seu estudo, ensino, investigação e claro, em cirurgia.

Até breve e não se esqueçam de serem felizes. Apesar de tudo, sorrir não dói…

Se for o caso, se o facto de sorrir lhe provoca dor, náusea, ou desequilíbrio, consulte o seu médico dentista.

Até uma próxima oportunidade!

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